A passada semana foi particularmente surreal para mim. Ainda
não sei exactamente o que aconteceu mas sei que do outro lado do Universo estão
um conjunto de deuses a conspirar contra mim. A criatura a quem me referi no post
anterior é um colega da faculdade que conheci uns meses antes do final do
passado ano lectivo. Falamos um par de vezes, fomos ao café mas nunca nada de
especial. Sobretudo porque depois vieram as férias e lá fui para a ilha e não
voltámos a falar. Sempre vou à Madeira ou mesmo quando volto para Lisboa evito
fazer um grande alarido, tento ser discreta e não anuncio ao mundo. Não faço
questão de colocar no Facebook e as únicas pessoas a quem aviso são um ou outro
amigo mais próximo, sobretudo porque não vejo qual o sentido a andar a fazer
actualizações ao minuto da minha vida que nem estrela de Hollywood. Mas mal
sabia eu do quanto as coisas mais banais da minha vida são motivo de
preocupações alheias. Tudo começou quando a santa criatura pediu para falar
comigo um dia destes à noite. Lá fui eu, temendo já pela minha vida, não
fazendo ideia do que seria tão importante que não poderia esperar pelo dia
seguinte, pela luz do dia e pela presença de mais testemunhas. E o que me
esperava era um pedido de explicações. Nem mais, tive de explicar o porquê de
não ter dado notícias durante o Verão, o porquê de não ter avisado que tinha já
chegado à Lisboa, o porquê de não ter os meus fins-de-semana todos reservados
só para ele, e só não tive de lhe explicar o que quis dizer com cada uma das
mensagens que lhe enviei até hoje porque entretanto já eram horas de ir para a
caminha. Explicações idiotas que não dou nem à minha melhor amiga tive de dar a
alguém que mal conheço. Alguém que fica a analisar durante duas semanas um “Olá”
que eu escrevo em dois segundos como se esperasse lá encontrar alguma mensagem
encriptada. Acontece que eu não me esforço assim tanto. Não faço jogos nem
mando mensagens com duplos significados. O que tiver a dizer digo e de
preferência pessoalmente. Nessa noite os níveis de surrealismo na minha vida
atingiram topos até agora desconhecidos. E eu literalmente não sabia o que
fazer por não fazer ideia do que me estava a acontecer. Parecia-me tudo um
ataque de ciúmes qualquer mas ao mesmo tempo também parecia ser apenas a
personalidade dele. Seja como for a única coisa que conseguia pensar, mas
que infelizmente não conseguia expressar, era “tu não me conheces de lado nenhum”.
Portanto decidi que a única forma de manter um mínimo de sanidade mental seria
evitar contacto com esta criatura, assim não corria risco de incentivar
qualquer tipo de comportamentos. Mas é claro que isso não o impediu e a única
maneira de o fazer perceber que há limites foi mesmo sendo antipática. E
estivesse eu nas tintas para esse facto o assunto teria morrido ali, ele teria
percebido que não aprecio que me controlem e não teríamos de falar mais.
Acontece que me senti culpada e lá aceitei contrariada o convite para ir ontem
ao café. E eu tinha razão, nunca deveria ter saído de casa. Não só foi uma
tarde cheia de silêncios embaraçosos como no final ele declarou-se. Mesmo antes
de ter de me deixar em casa, saiu-se com um “começo a gostar de ti”. Para as
minhas amigas já era mais do que óbvio que ele gostava de mim e nem percebem
como é que eu era a única que não via isso. Em minha defesa cabe-me dizer que é
impossível gostar de alguém que mal conhecemos, que essa coisa do amor à
primeira vista é muito bonita mas é treta. Tanto quanto ele sabe eu posso ser
até uma pessoa bastante horrível, do tipo que mata gatinhos com a faca da
manteiga. Foi por isso que não dei muita importância, desvalorizei o que ele me
disse devido à falta de motivos razoáveis. Isto até me lembrar que também eu desenvolvi
esta paixão pelo John sem o ter conhecido assim tão bem, que tanto quanto eu
sei ele também pode gostar de matar gatinhos com a faca da manteiga. Sim eu sei, tremenda
hipócrita Marta!
Talvez devesse pegar na tal faca da manteiga e cortar antes os pulsos.
Talvez devesse pegar na tal faca da manteiga e cortar antes os pulsos.
1 comentário:
Adorei este post. ainda que pareca descabido dizer-to ;)
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